terça-feira, 22 de novembro de 2016

Deus, Religiões, (In)Felicidade – as perguntas que andam pelas ruas

Livro/Agenda


Andrés Torres Queiruga chama-lhe, no prefácio, as “perguntas que andam pelas ruas, sem fugir às mais pungentes questões da actualidade”, por oposição aos temas que possam cheirar a “seita ou a sacristia”.
Essas perguntas, como recorda o autor, Anselmo Borges, logo no início da sua apresentação, são aquelas que perseguem a humanidade há muito e que já Ernst Bloch sintetizava, no seu O Princípio Esperança: “Quem Somos? Donde vimos? Para onde vamos? O que é que esperamos? O que é que nos espera?”
Anselmo Borges mantém há largos anos, no DN, uma crónica semanal na qual faz desaguar muitas dessas perguntas que andam pelas ruas, tentando descobrir-lhes um sentido, adivinhar-lhes a profundidade, perscrutar uma tentativa de resposta. O mistério de Deus, a morte, a relação entre a fé religiosa e a ciência, o ateísmo e a descrença são alguns dos temas que perseguem Anselmo Borges e que a sua escrita nos levam a reflectir, semana a semana.
A proposta do autor é que muitas das perguntas são já um caminho, um fio condutor que abre para respostas críticas, como ele escreve na apresentação e dá a entender, por exemplo, numa das suas crónicas sobre Deus. Em Deus, obsoleto?, escreve: “Deus continuará sempre presente, pelo menos, na pergunta por Ele. E a pergunta por Ele é já resposta nossa a perguntas que a realidade nos faz. Porque há algo e não há nada? Donde vimos? Para onde vamos? Porque se deve fazer o bem e não o mal? Acaba tudo na morte? Qual é o Sentido último da existência?”

Outros temas, surgidos do interior das religiões – e do cristianismo de modo particular – também adquirem importância, por serem consequência ou derivação de algumas daquelas perguntas que andam pelas ruas: podem as religiões dialogar entre si e relacionar-se com a organização política das sociedades numa base de respeito e serviço ao bem comum? Têm os mais pobres, as minorias ou as mulheres um lugar nas instituições religiosas? Que papel desempenha a reflexão teológica ou filosófica no interior da comunidade crente?
Sobre o lugar das mulheres o autor nota que há ainda um “caminho longo a percorrer até à dignidade na igualdade e à igualdade na dignidade”. E, a propósito do papel da crença nas sociedades sublinha que “a verdade das religiões afirma-se, na prática, no combate pela dignidade, justiça, direitos humanos”.
Há ainda a reflexão sobre temas que, não sendo estritamente da ordem religiosa ou filosófica, remetem para questões que, actualmente, moldam a nossa ontologia e antrolopogia, ou os modos de viver em sociedade: como nos relacionamos com o tempo ou com o dinheiro? Como enfrentamos a solidão? Como lutamos pela felicidade?...
De tudo isso se abeira este livro, resultado de uma antologia de algumas das crónicas de Anselmo Borges no DN, às quais se juntam dois textos mais extensos – um sobre o diálogo inter-religioso e outro acerca de religião e (in)felicidade.
O livro está organizado em três partes, que se desdobram depois em vários dos temas já enunciados. O enigma: a morte e Deus é a primeira; O diálogo inter-religioso vem a seguir; O que traz a felicidade? é a última, reflectindo-se aqui sobre questões como o dinheiro, os valores, a crise financeira, o trabalho e o ócio, o tempo, a saúde e o sofrimento, a solidão e a sabedoria.

Deus, Religiões, (In)Felicidade será o tema da conferência que decorrerá na próxima quinta-feira, a partir das 18h30, no Altis Grand Hotel (R. Castilho, 11), e que contará com as intervenções de Jaime Gama (antigo presidente da Assembleia da República e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros) e do eurodeputado Paulo Rangel, com a moderação do próprio Anselmo Borges, padre da Sociedade Missionária e professor na Universidade de Coimbra.

Deus, Religiões, (In)Felicidade
Autor: Anselmo Borges
Edição: Gradiva, 250 páginas

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