quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Papa escreve ao G-20 contra a "vã pretensão" de uma solução militar para a Síria

Uma carta a Vladimir Putin enquanto anfitrião do G-20 e uma reunião com todos os embaixadores acreditados junto da Santa Sé, para lançar uma ofensiva diplomática contra a possibilidade de uma intervenção militar na Síria. Estas são as últimas iniciativas do Papa e do Vaticano para tentar travar a hipótese do alargamento da guerra naquele país, nas vésperas da jornada de jejum e oração, convocada pelo próprio Papa Francisco para o próximo sábado e que tem merecido a adesão de muitas vozes – incluindo em Portugal, onde há várias iniciativas previstas.
Na carta que enviou a Putin – divulgada hoje mesmo, dia de início da cimeira de São Petersburgo –, o Papa lança um forte apelo a que os líderes ali presentes “ajudem a encontrar maneiras de superar as diferentes posições e abandonem qualquer vã pretensão de uma solução militar”. Antes deve procurar-se “um novo compromisso, com valentia de determinação, uma solução pacífica através do diálogo e da negociação entre as partes interessadas, com o apoio unânime da comunidade internacional”.
O Papa Francisco escreve ainda que os líderes dos países do G-20 não podem permanecer “apáticos perante o drama que vive” a população síria e que corre o perigo de levar “novos sofrimentos a uma região submetida a duras provas e necessitada de paz”. Desgraçadamente, acrescenta, verifica-se que “demasiados interesses parciais prevaleceram desde o início do conflito, impedindo que se encontrasse uma solução que evitasse o inútil massacre de que estamos sendo testemunhas”. E apela ao “dever moral de todos os governos do mundo”, no sentido de incentivar todas as iniciativas para promover a assistência humanitária” às vítimas do conflito.

No texto, o Papa não deixa de fora a urgência da reformulação do sistema financeiro internacional que ajude a construir “um mundo mais igualitário e solidário, onde se possa acabar com a fome, oferecer a todos um trabalho digno, uma habitação adequada e os cuidados médicos necessários. “A economia mundial crescerá realmente na medida em que seja capaz de permitir uma vida digna para todos os seres humanos”, acrescenta a carta. “Sem paz, não há qualquer tipo de desenvolvimento económico. A violência nunca traz a paz, condição necessária para tal desenvolvimento”, conclui o documento, que pode ser lido aqui na íntegra, em inglês.
Na reunião desta quinta-feira com os embaixadores junto da Santa Sé, o secretário do Vaticano para as relações com os Estados, Dominique Mamberti, explicou perante 71 embaixadores que se deve respeitar a integridade territorial da Síria, garantir um lugar numa nova Síria a todos os sectores sociais do país – incluindo aos cristãos e à minoria alauita – e dar passos no sentido de uma nova constituição, do respeito pelos direitos humanos e da liberdade religiosa.  
De acordo com o La Croixo Vaticano defende ainda, no imediato, um cessar-fogo que permita a assistência humanitária e médica à população vítima do conflito – que já provocou, desde há dois anos e meio, mais de 100 mil mortos e para cima de dois milhões de refugiados.

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