sexta-feira, 5 de abril de 2013

Vencer o medo dos dias de chumbo


Exposição

Corpos e rostos distorcidos, sombras de medo, cabeças de animais, pietás, anjos... A exposição Os Desastres da Guerra, de Graça Morais, parte de fotografias retiradas de jornais relativas a conflitos, actos de violência, tragédias e guerra. Para mostrar um quadro que, na expressão da própria pintora, fala da “fuga do caos e do abismo”. Explica ela: “São milhões de seres humanos que migram em busca de um futuro melhor. Fugidos de guerras, de genocídios, do terrorismo, de catástrofes naturais, lutando numa cruzada contra a fome, a doença, as injustiças sociais e as perseguições políticas.
 É através destas pinturas que faço uma reflexão profunda sobre a resistência de mulheres e homens que procuram o seu lugar na Terra, lugar no qual recusam a fatalidade do Medo e a indignidade do Mal.”
Esta é uma pintura, assim, que nos fala das sombras e da caminhada do medo, mas também da empatia, da fuga e da resistência. Num dos (excelentes) textos do catálogo, escreve José Manuel dos Santos: “Estas obras dizem o nosso nome, usam a nossa língua, olham-nos no nosso olhar. (...) fugimos na sua fuga, paralisamos no seu medo, sofremos no seu sofrimento.” O autor cita mesmo Octavio Paz para dar uma dimensão quase religiosa a esta obra: “Tu pintura es el lenzo de Verónica / de ese Cristo sin rostro / que es el tempo.” Não por acaso, o tema da Pietá é um dos que se repete neste conjunto.
Estes quadros de Graça Morais dão, assim – escreve ainda José Manuel dos Santos – “uma atenção à indiferença, uma proximidade à distância, uma recusa à aceitação, um juízo de valor ao juízo da realidade”. E João Pinharanda, comissário da exposição, acrescenta num outro texto que a vontade da pintora com a sua obra é expulsar as sombras e vencer os “medos dos nossos dias de chumbo”. Um grito de alma, um grito de arte.

(ilustração: A Caminhada do Medo V, 2011; este texto foi publicado no Mensageiro de Santo António, Abril 2013)

Os Desastres da Guerra
Pintura de Graça Morais
Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva
De Quarta a Domingo, das 10h às 18h (entrada gratuita das 10h às 14h); até 14 de Abril

Sábado, dia 6 de Abril – debate "E depois da Guerra?"
15h – visita à exposição, guiada pela artista
16h – debate com Adelino Gomes, José Manuel dos Santos, José Tolentino Mendonça, Luísa Soares de Oliveira e Viriato Soromenho-Marques

Sem comentários: