domingo, 23 de dezembro de 2012

Jesus: quem foi?

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Sintetizo X. Pikaza quanto ao consenso de base sobre "Jesus: quem foi, o que queria, que final?"

  1. Jesus foi um profeta escatológico, que anunciou e actuou na perspectiva da acção iminente de Deus, que iria transformar a ordem social e política do mundo.
  2. Foi um sábio, perito em humanidade, contando histórias iluminantes para a condução da vida, para lá da banalidade do mundo e em ordem ao seu entendimento e transformação.
  3. Foi um taumaturgo e um carismático. Tinha "poderes" especiais, com grande capacidade de influência. Colocou-se do lado dos oprimidos, com "sinais" a seu favor, preocupando-se com a saúde das pessoas, a sua libertação e autonomia pessoal.
  4. Foi homem de mesa comum. Estava interessado na comunicação viva e fraterna entre todos, como mostram os banquetes com pecadores e excluídos, ultrapassando as divisões entre puros e impuros.
  5. Criticou uma forma de família baseada só na genealogia, para procurar uma forma nova de comunhão e inter-relação entre todos: num momento de grande desestruturação social, apresentou-se como impulsiona- dor de um movimento messiânico, aberto a todos e integrando os diversos estratos da sociedade, especialmente os marginalizados.
  6. Foi um comprometido radical, de tal modo que a sua proposta não foi aceite por muitos "bons" judeus do seu tempo. Rompeu com normas sacras aceites pela maioria religiosa e abriu-se aos marginalizados sociais, num momento de grande crise económica, cultural, social e familiar. A sua proposta tornou-se perigosa, originando um conflito com os defensores da ordem religiosa e os representantes de Roma.
  7. Foi um pretendente messiânico, executado em Jerusalém. Foi um profeta, um sábio, um carismático, mas não apenas isso. Ele subiu a Jerusalém pela Páscoa do ano 30 como portador do Reino de Deus, ainda que se discutam as características da sua pretensão. Foi rejeitado pelas autoridades sacerdotais de Jerusalém e condenado à morte por Pôncio Pilatos como "rei dos judeus".
  8. Depois da sua morte, o seu movimento profético-messiânico manteve-se e transformou-se. Muitos continuaram a acreditar nele, confessando que ele está vivo em Deus. Reflectindo sobre o modo como viveu, como agiu e se comportou, sobre a sua experiência de Deus, que proclamou, com palavras e obras, como amor incondicional, tiveram a experiência avassaladora de que ele não morreu para o nada, mas para o interior da Vida plena de Deus. É o Vivente em Deus.

(Da coluna semana de Anselmo Borges, no Diário de Notícias de 22.12.2012; Foto de obra existente na Casa-Museu do escultor José Rodrigues - Convento de S. Paio, Vila Nova de Cerveira)

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