domingo, 23 de setembro de 2012

Queimar o país?



Do texto de Bento Domingues, no Público de hoje:


"1. Contaram-me que o padre Victor Melícias, quando estava ligado aos Bombeiros, perante um incêndio enorme, terá insistido numa linha de intervenção que indignou o responsável pelo comando das operações: "Cale-se, padre Melícias! O senhor pode entender muito de fogo do Inferno, mas deste não percebe nada!" Menos sei eu, mas não estou obrigado a calar-me, quando o país está a ser todo queimado e os sacrifícios dos bombeiros só conseguem que ainda fique alguma coisa para arder no ano seguinte! É estranho que este crime, esta destruição de recursos essenciais para o presente e para o futuro, não signifique nada, absolutamente nada, no debate político actual. Nenhum compromisso com a troika nos pode obrigar a entregar o país ao abandono e às chamas. Pode-se dizer que, se tenho obrigação de saber alguma coisa de missas e religiões, estou dispensado de tocar num assunto que exige formação específica e informações rigorosas, analisadas num quadro pluridisciplinar. É verdade que não sou engenheiro florestal, nem teórico do desenvolvimento sustentável.

Acontece, porém, que é a participação na Eucaristia que obriga os católicos a não passar ao lado das questões ecológicas e sociais. É o próprio Ofertório da missa que implica o casamento do Céu e da Terra: "Bendito sejais, Senhor, Deus do Universo, pelo pão e pelo vinho que recebemos da vossa bondade, frutos da terra e do trabalho humano que hoje Vos apresentamos e que para nós se vão tornar pão da vida e vinho da salvação."

Se trairmos esta aliança do divino e do humano na relação com a natureza, comemos e bebemos a nossa condenação na Eucaristia. É nela e por ela que dizemos o sentido do cosmo, da história humana e da vida espiritual de cada participante. Sem integrar a promoção do bem comum das comunidades locais e o cuidado pelo presente e futuro da terra, casa de todos, a missa renega o Cristo cósmico. (...)"

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