sábado, 3 de julho de 2010

"Sete dias que abalaram o Vaticano"

No National Catholic Reporter, o jornalista e vaticanista John L. Allen Jr escreve, nesta sexta-feira, sobre "sete dias que abalaram o Vaticano. Eis um excerto:


"É habitual o Vaticano procurar limpar os dossiês de assuntos pendentes antes de o papa se dirigir para o seu período de férias de Verão em Castel Gandolfo, o que Bento XVI vai fazer após a audiência geral desta quarta-feira. Isso geralmente contribui para uma enxurrada de notícias no final de Junho, o que foi este ano sobrecarregado por acontecimentos dramáticos que irromperam no Vaticano a partir do exterior.
Consideremos a torrente de grandes notícias do Vaticano nesta última semana:

* Uma série espectacular de buscas policiais contra a Igreja Católica, na Bélgica, como parte de uma procura de provas sobre abusos sexuais, incluindo a indagação nos túmulos de dois arcebispos falecidos, em busca de documentos ocultos, o que desencadeou uma guerra diplomática de palavras agrestes entre Bruxelas e Roma.
* Uma sessão quase surreal de kiss-and-make-up entre dois cardeais, Christoph Schönborn, de Viena, Áustria, e Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício e antigo Secretário de Estado do Papa João Paulo II. A reunião aconteceu depois de Schönborn ter acusado Sodano, em Abril último, de bloqueio num capítulo especialmente explosivo da crise de abuso sexual na Áustria.
* A decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de permitir que um processo de abuso sexual contra o Vaticano em Oregon prossiga, e da apresentação de um novo processo contra o Vaticano (e contra a Ordem dos Salesianos) em Los Angeles, dois dias depois.
* Importantes mudanças em cargos do Vaticano, incluindo a nomeação do Cardeal Marc Ouellet, do Quebec para a liderança da ultra-poderosa Congregação dos Bispos, e de D. Kurt Koch, de Basileia, na Suíça, para substituir o Cardeal Walter Kasper como principal alto cargo ecuménico do Vaticano. Em geral, as nomeações exprimem o triunfo dos teólogos sobre os diplomatas no Vaticano, assegurando que homens que partilham as perspectivas teológicas e espirituais de Bento XVI estão agora firmemente no comando.
* A criação de um novo e marcante departamento do Vaticano, o "Conselho Pontifício para a Nova Evangelização", cuja missão é tentar despertar a fé no Ocidente, sobretudo na Europa, com o italiano D. Rino Fisichella nomeado como o seu primeiro presidente.
* As lutas para conter as consequências de um escândalo financeiro que roda em torno da Congregação para a Evangelização dos Povos, anteriormente conhecida como "Propaganda Fidei", com o Vaticano primeiro a admitir "erros de julgamento" e, vinte e quatro horas mais tarde, a insistir em que isso não deveria ser tomado como referência pessoal a [cardeal Crescenzio] Sepe.
* Uma audiência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem para determinar se a exibição de crucifixos nas salas de aula das escolas públicas italianas viola a protecção europeia de direitos humanos e da liberdade de consciência.

Confrontado com esse dilúvio de notícias, a tentação óbvia é a de perder a perspectiva da floresta e olhar para as árvores. Aqui, gostaria de ir além dos detalhes e reflectir sobre a pergunta "o que significa tudo isso?" Há, claro, muitas respostas possíveis, incluindo a versão de Homer Simpson da navalha de Occam: "Porque tem de significar alguma coisa? Talvez se trate apenas de uma série de coisas que aconteceram ".

No entanto, sinto-me inclinado a pensar que a semana passada significa mesmo alguma coisa, e aqui está a minha primeira ousadia em expressá-la: colectivamente, acho que esses eventos simbolizam e antecipam a queda do catolicismo como maioria informadora da cultura no Ocidente.
Quando a poeira baixar, os decisores políticos na Igreja, em especial no Vaticano, estarão cada vez mais comprometidos com o que os teóricos sociais chamam "política de identidade", um mecanismo de defesa tradicionalmente invocado pelas minorias, quando confrontadas com o que percebem como uma maioria cultural hostil. (...)"

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Foto: Ruínas de convento em Pitões das Júnias.

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